CIDADANIA (aecpaiva): junho 2021

“Príncipes do Nada”

e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU

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Emitido a partir de 2006, "Príncipes do Nada" conta com cinco temporadas, a última das quais foi para o ar em 2020, e resulta de uma parceria entre Catarina Furtado, embaixadora da Boa Vontade (da ONU), de Ricardo Freitas (representante da produtora " Até ao fim do mundo") e da RTP. Trata-se de um programa dedicado ao trabalho na área da Cidadania e dos Direitos Humanos nos países em vias de desenvolvimento que aborda os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável que devem ser implementados até 2030 (de acordo com a Agenda 2030 da ONU).

O objetivo 1 da ONU é Erradicar a Pobreza. Em África, uma grande percentagem da população vive em estado de pobreza extrema, sobrevivendo com menos de 1,25 dólares por dia. Podemos facilmente deduzir que as condições de vida e de saúde não são as melhores. Este objetivo da ONU é, pois, particularmente importante neste continente, para diminuir a disparidade de condições de vida a nível nacional e mundial e implementar medidas e sistemas de proteção social adequados até 2030, atingindo uma cobertura substancial dos mais pobres e vulneráveis. O episódio 1 apresenta várias situações em que a pobreza extrema e a luta pela sobrevivência levam as pessoas a praticarem ações desumanas, como a venda de pessoas albinas ou os seus órgãos. Podemos também ver que a pobreza aumenta o nível de desinformação que, neste caso, se reflete em crenças e tradições cientificamente falsas (sobretudo no Norte de África), segundo as quais as partes do corpo de pessoas albinas têm poderes mágicos ou, pelo contrário, dão azar. Estas duas visões são ambas erradas, mas acabam por ter o mesmo resultado: atos desumanos contra pessoas albinas, como raptos, mortes ou tortura. Várias ações que contribuem para a melhoria das condições de vida em África e no mundo estão, neste momento, a ser desenvolvidas e devem, sobretudo, passar pela aposta na educação das populações.

Outro dos objetivos é o da Saúde de Qualidade (objetivo 3). Com este objetivo, pretende-se garantir o acesso global à saúde. Na Guiné-Bissau, tal como comprovamos no episódio 2, por cada 1000 nascimentos, há 55 mortes e, por cada 100000 nados-vivos, 900 mães morrem. Muitas destas mortes são causadas pela desnutrição, anemia, diarreia, malária e infeções pulmonares e as mulheres são proibidas de ir aos hospitais. Neste país, não existem medicamentos suficientes devido à falta de condições financeiras e os hospitais não têm capacidade para ajudar tantos doentes. Para além disso, o pessoal médico não tem muitos conhecimentos científicos e os equipamentos existentes estão muito degradados. Resta, por isso, muito a fazer nesta área.

No episódio 5 da temporada 4, é-nos apresentado o objetivo 5 de desenvolvimento sustentável que é o da Igualdade de Género. A procura pela igualdade de género passa pela condenação da violência, da discriminação, da exploração sexual das mulheres, por reconhecer e valorizar o trabalho doméstico e a divisão das tarefas, por promover o acesso à saúde sexual e à informação sobre a mesma. Neste episódio, a igualdade de género está patente nos casamentos forçados e nos preços praticados nesta “transação”. É-nos apresentado o exemplo de Mariama que, com 17 anos, abandonou o Senegal e a sua família para fugir de um casamento arranjado pelo próprio pai e acabou por encontrar abrigo na Guiné-Bissau. Uma das soluções para este problema poderá passar pela apresentação de queixa de violência sexual às autoridades judiciais, uma vez que o casamento forçado e precoce por si só não é considerado crime. Tudo isto é importante para mostrar que as mulheres têm direitos e devem lutar por eles.

Outro dos objetivos é providenciar o acesso universal à Água Potável e Saneamento (objetivo 6). É, efetivamente, muito importante melhorar a qualidade da água existente reduzindo a sua poluição, o que, consequentemente, diminuiria as doenças causadas pela mesma. O saneamento também é também encarado como essencial visto que a sua instalação atenuaria a poluição existente no ambiente e contribuiria para o desenvolvimento de melhores cuidados de higiene. No episódio 9 da série "Príncipes do Nada", na Guiné-Bissau, para melhorar as condições de saneamento da região, dão-nos o exemplo da construção de latrinas em todas as casas e mostram que esse mesmo projeto está em andamento.

Com o objetivo 14 (Proteger a Vida Marinha), tratado no episódio 4, pretende-se lutar contra a poluição marinha, o que se reflete na saúde dos animais do mar ao diminuir as doenças de que são alvo, uma vez que os plásticos que estes ingerem podem matá-los. Para atingir este objetivo, é muito importante o voluntariado na recolha de plásticos nas praias, que acabam por se propagar na água dos oceanos e mares. Da mesma maneira, há cada vez mais necessidade de recorrer a especialistas que cuidem dos animais que se encontram feridos, e de angariar dinheiro para a compra de barcos que possam ser utilizados nas patrulhas marinhas.

Neste mesmo episódio, encontramos também o objetivo 15 (Proteger a Vida Terrestre), que nos mostra a enorme importância de ações (a decorrer na Ilha do Príncipe), como a recolha de lixo (não apenas nas praias, mas também nas florestas), o abate das árvores mais altas ou demasiado juntas e a plantação de novas. Também nesta área, a ação dos voluntários experientes contribui de forma decisiva para ajudar a vida terrestre e a vida marinha.

Para além das acima mencionadas, a série "Príncipes do Nada” acompanhou centenas de outras iniciativas em vários países, de Moçambique à Indonésia, da Índia a Guiné-Bissau, de Cabo Verde a Timor-Leste, e em todos os lugares se encontraram indivíduos empenhados em combater a fome e a pobreza extrema, em lutar por uma melhor educação, pelos direitos das crianças, pelo direito à saúde, pela igualdade de género, em dar suporte nas crises humanitárias ou em denunciar a exploração abusiva dos recursos naturais.